Resenha do documentário “Avenida Brasília Formosa”


                                                          

                                                                                    Texto:Elen de Souza

O documentário “Avenida Brasília Formosa”, é uma obra do diretor pernambucano Gabriel Mascaro e tem 85min de duração. O filme relata a trajetória de alguns moradores do bairro Brasília Teimosa. A trama é entrelaçada pelo garçom e cinegrafista Fabio, que registra diversos momentos do bairro e também dos moradores que lá residem. Fabio é contratado para fazer um vídeo da animada manicure Débora, que sonha em entrar para o Big Brother. Também registra a festa de aniversário do pequeno Cauã, fã do homem aranha, que aos recém completados cinco anos, vive tranqüilo com a família desfrutando o mel da infância. Já o pescador Pirambu, mora em um conjunto habitacional construído pelo governo para abrigar antigos moradores da orla, que viviam em pequenas casas suspensas por madeiras, as chamadas palafitas.  No acervo de imagens de Fabio, há registros da visita do então presidente Lula, em breve passagem pelo local onde ficavam as palafitas e que após a desocupação dos moradores, deu lugar a Avenida Brasília Formosa, com seus prédios e obras arquitetônicas. O filme constrói uma rede que liga de maneira singela a vida dos moradores da comunidade, a assim como no slogan da obra, a Avenida Brasília Formosa se transforma em uma via de encontros e desejos.
A abordagem utilizada pelo cineasta traz ao espectador uma sensação de ficção, devido à falta de intervenção e até mesmo de uma direção de pensamento sobre de que assunto se trata o documentário. Uma trama real que as vezes parece ter sido roteirizada de antemão, devido à construção dos acontecimentos, e a forma como são apresentados cada “personagem”. Porém, há algumas cenas que sugerem um deslocamento do ficcional, como no bate papo de Débora com a amiga, ou Fabio na piscina com amigos, e nos remetem a realidade documentada de pessoas da comunidade Brasília Teimosa. Essa é a grande sacada do cineasta que nos prende nesse duo de realidade e ficção. Durante todo o filme é inevitável não tentarmos fazer uma ligação entre os personagens que nos são apresentados, e isso se torna quase possível até o surgimento do quarto elemento: o pescador, o único excluído das captações da câmera do cinegrafista Fabio e rompe com o elo pré- construído no nosso imaginário. Porém, esse rompimento é momentâneo, pois logo nos atentamos a uma ligação sutil que os entrelaça culturalmente e historicamente.
O filme relata através de sujeitos comuns, a realidade de uma comunidade pernambucana. Assim como na primeira cena é mostrado um pescador tecendo uma rede, esses personagens eleitos tecem uma rede que representa a realidade, a história, a arquitetura e também os sonhos de uma gente. Seja no garoto que faz parte deste contexto, a alegria e sensualidade da manicure, na fé e persistência do garçom cinegrafista, ou na imagem do pescador que representa uma parte econômica do estado e que vivência seja janela de casa ou no balançar no barco, as mudanças que surgem ao redor. “Avenida Brasilia Formosa” transpassa uma via de encontros e desejos e se transforma numa via de determinação, sonhos reais e possíveis.


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